Portugal fez história no Euro 2016 e eu estava lá!

 

 

Fiz a minha estreia em jogos da selecção fora de Portugal num jogo que definia quem passava aos oitavos de final. O jogo com a Hungria era o tudo ou nada. Tudo ou nada porque a selecção corria o risco de ser eliminada do Euro, e tudo ou nada porque eu corria o risco de estar a cometer uma loucura apenas pela experiência. Um dos pontos que acusavam os adeptos portugueses era de falta de apoio. Os Islandeses suplantaram-nos no primeiro jogo e surpreenderam o mundo com a ligação entre os jogadores/adeptos. As horas que antecederam o Portugal – Austria faziam imaginar que o estádio seria austríaco. Mais uma vez os portugueses “do alto seu camarote” queixaram-se da falta de apoio de quem estava no estádio. O jogo com a Hungria foi o ponto de viragem. Portugal sentiu que, de facto, o 12º jogador estava presente e ía ajudar a conquistar os objectivos.
Depois do jogo com a Austria os portugueses estavam descrentes na possibilidade de passagem aos oitavos. Quando se é uma equipa que, infelizmente, poucos jogos ganha ao longo da época, a fé é gigantesca. Ah, a minha equipa é a Académica. Juntamente com amigos pusemos a hipótese de ir ao Euro. Na primeira análise à possibilidade ida, as viagens de avião para Lyon já não estavam baratas e o acesso aos bilhetes era limitado face ao número que queríamos, e ao mesmo tempo o preço não era apetecível. O tempo era curto e naquele momento os bilhetes que conseguíamos ter acesso eram de categoria 2, custavam 145€?!. Começa aqui aquilo que eu apelidei de “loucura” no inicio do texto. Não estou habituado a ver jogos europeus (desde que sigo a AAC apenas esteve presente na Europa League em 2013/2014, e aí o valor dos bilhetes era secundário face ao sonho que estava a viver, mesmo aí o preço mais caro nem esteve perto do mais barato que haveria para este jogo, o de categoria 4), mas nesta época que acabou tive a oportunidade (não fui!) de ir ver a Roma frente ao Real Madrid, em Madrid, e aí os bilhetes eram nominais e rondavam os 60€. Aí já considerava o preço do bilhete elevado, nunca imaginaria que meses mais tarde iria pagar 145 para ver a minha selecção no Euro. Ultrapassada a questão dos bilhetes, seguimos de avião até Lyon. Tudo correu normalmente até chegar o momento de conhecermos a fan zone da cidade. Uma revista apertada antecipou a nossa entrada, ao ponto de termos de passar por detectores de metais, tirarmos tudo dos bolsos, etc. Uma revista mais rigorosa do que a da entrada no estádio, digamos. Mas sobre isso falarei mais à frente.
O ambiente vivido foi bastante morno. Estive lá num período em que houve quatro jogos (Irlanda do Norte – Alemanha; Ucrânia – Polónia; Croácia – Espanha; República Checa – Turquia) havia adeptos de “todas” as selecções. Não fosse a revista apertada, as cervejas de 0,50cl a 7€ (a primeira tinhas de pagar mais 1€ para teres direito ao copo) ninguém diria que aquela era uma fan zone de uma cidade que acolhia jogos do Europeu. Dado que o Euro era em França, ía na esperança de ver bastantes adeptos portugueses mas isso foi uma ilusão. Embora a cidade estivesse com bastante gente, vimos “meia dúzia” de portugueses. Cheguei a perguntar a alguns franceses se o facto de haver bandas e barracas com bebidas numa determinada praça da cidade era animação própria do Europeu ou se era normal, e prontamente me disseram que a cidade tem bastante animação e não tinha nenhuma relação com o Euro. Logo, a desilusão continuou depois de jantar. Chegou a uma determinada hora e já não se via gente na rua, nem franceses, nem o comum adepto “estrangeiro” de futebol. Como bons portugueses tivemos de desenrascar uma festa… Conclusão, vi de perto o Euro 2004 e não tenho duvidas em afirmar que soubemos receber e criar melhores condições para quem nos visitou. No dia do jogo, na praça onde estava concentrados os bares e o loja oficial da U€FA não havia nenhum tipo de controlo de acesso. Conseguia-se chegar ao primeiro controlo de validação do bilhete sem sequer seres revistado e qualquer pessoa poderia circular nas imediações do estádio. O único controlo que havia era a falta de álcool. Álcool só em cafés a uma boa distância estádio. Passámos por dois controlos, o primeiro para ver se o bilhete era verdadeiro e o segundo, onde aí sim, houve a única revista que tive. Apenas posso falar por mim, mas num país em estado de emergência como a França vive actualmente e numa competição como o Euro, a revista foi uma palhaçada. Em Portugal em qualquer jogo do campeonato numa revista mais a serio obrigam-te a tirar tudo dos bolsos, tirar algum casaco que tragas à cintura, um boné ou um gorro também são revistos, etc. Ali a minha revista foi zero. Passaram-me a mão pelos bolsos, que estavam cheios, diga-se, e mandaram-me entrar sem verificar o que trazia. Estando eu à espera de uma revista apertadíssima, fiquei surpreendido. Referi que o bilhete da Champions era nominal, este também era. Por acaso o nome que estava no bilhete nem era o meu, mas também ninguém me questionou sobre isso. Apenas junto à entrada de cada sector se conseguiu sentir o ambiente de jogo. Estávamos em menor numero, mas mesmo assim conseguimos fazer frente aos húngaros. No que a cânticos diz respeito. Importa salientar que neste jogo não houve nenhuma proibição de entrada de material, nem da Mancha Negra, nem da Académica, coisa que nos jogos que se seguiram não se verificou. Este empate trilhou-nos o caminho para a final, mas foi ambiente que se viveu naquele estádio que embalou a selecção para ir à procura do resultado. Como estas são viagens de sacrifico, mais uma noite sem dormir se seguiu para estarmos em Portugal no dia a seguir bem cedo. Sacrifícios que valem a pena para quem segue o futebol fora do sofá. A minha segunda deslocação deste Euro foi na final, onde não tenho duvidas em afirmar que umas das maiores loucuras da minha vida me proporcionou um dos melhores momentos. Tive oportunidades de ter regressado a França antes da final, mas não tendo disponibilidade anteriormente, depois da vitória frente ao País de Gales senti que era a oportunidade que não poderia perder. Passando às questões logísticas da viagem, quem tinha bilhete não queria vender, quem punha essa hipótese queria centenas/milhares de euros. Na Federação os bilhetes só foram disponibilizadas pouco mais de 48horas antes do jogo, logo a chegada a Paris tornava-se cada vez mais complicada. Na sexta-feira, à hora que a FPF disponibilizou os bilhetes tinha algumas pessoas a tentar comprar bilhete, eis que novamente surge a oportunidade de ver um jogo do Euro na segunda categoria (não vou falar sobre o preço do bilhete). O bilhete estava comprado e as viagens estavam a preços proibitivos, a solução era o carro. Solução essa que sábado de manhã se esfumou. Estava no dia que antecedia a final, tinha cometido uma das maiores loucuras da minha vida ao comprar o bilhete e não tinha como ir. Mas aquele era o momento de uma vida para quem o futebol e lá foi encontrada uma solução. Resumidamente: Porto-Tours (cidade a cerca de 250km de Paris) de avião; Tours – Paris de TGV e às 15horas estávamos em Paris. Ao chegar a Paris não senti um excesso de policiamento face ao “estado de emergência” que a cidade se encontrava. Já só faltava o metro até Saint-Dennis. À saída do metro aí sim, carrinhas e carrinhas de policia e uns metros mais à frente estavam dezenas de pessoas a venderem bilhetes. Magrebinos a passarem no meio da multidão a perguntar se queríamos bilhete. Por curiosidade ainda perguntei a um quanto queria pelo bilhete, 1000€ foi a resposta. Ao mesmo tempo, discretamente, iam aparecendo uns “artistas” com sacos cheios de lata de cerveja (quente) para vender. Tinham encontrado uma forma de combater o negócio da U€FA, mas com cerveja quente e com policia a rodar a zona não me parece que o negócio tenha dado lucro, pelo contrário. Ainda cheguei a ver um destes “artistas” a ser encostado a uma parede por meia dúzia de policias. A segurança ia-se notando cada vez mais. Para entrares no perímetro do estádio tinhas de passar por um primeiro controlo, não era necessário mostrar bilhetes do jogo (até porque na altura ainda não estava comigo) mas cada um e as coisas que traziam eram revistados ao pormenor, embora um dos objectos “proibidos” fossem isqueiros e passando essa barreira havia muita gente a fumar… Os portugueses faziam a festa, a presença de franceses não se faziam notar a cerca de 4horas do jogo. Trocar o voucher pelo bilhete foi simples porque chegámos com tempo, mas com o tempo a passar a confusão começou-se a notar. A partir daqui a história foi o que vocês viram, o jogo foi de nervosismo mas os últimos 15 minutos do tempo regulamentar e todo o prolongamento são momentos que guardarei comigo para sempre. Não vou entrar em discussão de quem puxou por quem, mas os portugueses uniram-se e aquela curva estremeceu com a grandeza de apoio. O golo… O golo foi o ponto alto de toda esta epopeia. Não há descrição possível. Já todos nós vivemos nos nossos clubes grandiosos momentos, uns mais que outros, foi mais ou menos isso. A vitória foi indiscritível!
Devem imaginar a alegria que foi depois daquela vitória, depois de todos os sacrifícios acumulados para estar presente em Saint-Dennis, mas faltava uma etapa, uma etapa bem longa para terminar esta odisseia pelo Europeu. Só a alegria da vitória me permitiu acordar bem cedo, entrar num autocarro atravessar França, Espanha e chegar 24horas depois a Coimbra. 24horas de viagem pelo titulo europeu. Ou era o autocarro ou teria que ficar em França 48horas e gastar centenas de euros para regressar.
Um brioso abraço,
Pedro Marinheira, associado nº8